Sobre conjuntos rotativos e elementos de conjunto incomuns

Lili enviou a seguinte pergunta:

Pergunta: Como tenho dificuldade em encontrar conjuntos que sejam perfeitos para mim e que avoquem uma sensação plena de comodidade, sempre estou experimentando e trocando meu set para não ter tempo de sentir-me nem deslocad nem perdid ─ principalmente por causa do acostumamento e da perda do encanto.

Por isso, acreditando que tal técnica possa aligeirar um pouco este sentimento de não pertencimento, gostaria de saber se existe um elemento que caracteriza o uso de linguagem rotativa entre conjuntos pré-estabelecidos.

(P.S.: Vocês poderiam agregar no final neopronomes mais “incomuns”? São difíceis de encontrar e são os únicos a me deixarem confortável.)

Previamente, obrigad!

Para quem não entender o que está sendo dito aqui, um guia que explica conjuntos e rotação de elementos de conjuntos pode ser encontrado neste tópico.

Eu já sugeri previamente (provavelmente em outro lugar) que pessoas que querem elementos de conjuntos rotativos entre conjuntos específicos podem usar algo como -/[r: éli, els, ael]/[r: ae, y], mas não sei o quanto outras pessoas entenderiam. Pode ser mais fácil listar uma porção de conjuntos (nem que seja em um link externo) e falar que é pra rotacionar entre eles, especialmente quando são mais do que duas ou três possibilidades.

Pro seu caso, e caso você esteja confortável com isso, eu sugeriria dizer que você usa qualquer conjunto fora certos conjuntos específicos mais comuns (por exemplo, todos fora a/ela/a, e/elu/e e o/ele/o), e que é pra usar quaisquer elementos que não sejam esses.

Oltiel também sugeriu colocar r: (ou outra indicação de rotacionamento, como rtt, rot ou rotacionar) no início dos conjuntos sendo listados, como em r: (am, x, le)/(ewl, iel, oel)/(an, q, el).

Sobre conjuntos incomuns, eu não sei o quanto adianta tentar sugerir um monte de possibilidades. Elas são ilimitadas. Alguns dos elementos de conjuntos que encontrei ou inventei estão disponíveis aqui e aqui, mas não sei o quanto adianta pensar em várias outras possibilidades apenas para que tenham chances de serem usadas.

O texto Como criar um pronome pode ajudar na criação de pronomes, e quanto ao resto eu sugiro evitar finais de palavra que começam com consoantes e artigos que sejam palavras já existentes (como lá ou de), ainda que eu não ache o fim do mundo se você quiser ignorar essas sugestões em alguns conjuntos.

Acho que qualquer pronome que não contém a letra L vai ser incomum (embora pronomes como aeli, iel, ol, ul, yl, alu e ilin também sejam). Então se, por exemplo, você gosta do som de i/y, você pode usar ini, iwy, yci, ify, inhy e tudo mais. Também é raríssimo achar gente usando artigos específicos além de a, e, ê, i, le, o e u, ou finais de palavra que contenham mais do que uma letra. Espero que isso ajude.

~ Ás

Traduções para pronomes baseados em substantivos (nounself pronouns)?

Recebemos a seguinte pergunta:

Qual seria a tradução dos pronomes Fireself, starself e etc? Ou não tem nenhuma até o momento?

Bem. Eu gostaria de começar dizendo que não existe tradução exata para conjunto nenhum, além de she/her (a/ela/a) e de he/him (o/ele/o).

Isso porque o nosso contexto é bem diferente.

Por exemplo, they/them e it/its são conjuntos que são considerados padrão na língua inglesa. Lá, a briga não é “isso é contra a gramática porque são palavras inventadas”, e sim “isso é contra a gramática porque essas palavras estão sendo usadas errado”.

Por consequência, they/them como um conjunto neutro universal é algo muito mais constante e aceito do que e/elu/e como um conjunto neutro universal. 10 anos atrás, they/them singular provavelmente seria um conjunto traduzido como x/elx/x ou @/el@/@, porque e/elu/e ou conjuntos similares não eram tão populares.

O que eu quero dizer com isso é que podemos achar análogos que passem mais ou menos a mesma ideia do conjunto original; porém, o contexto cultural faz com que não possa existir nenhuma tradução 100% garantida.

Por serem apenas palavras inteiras a serem substituídas quando pessoas possuem pronomes diferentes na língua inglesa (na maioria), há uma liberdade maior em relação à escolha de um conjunto de pronomes.

Aqui, ao formar um conjunto de linguagem, precisamos de pronomes que comecem com vogais (para que funcionem em palavras como dele ou aquily), de finais de palavra que não sejam compridos ou inconvenientes demais (para que funcionem em palavras como lindae e professorel) e de artigos que não possam ser confundidos com outras palavras ou com parte do nome da pessoa.

E, além disso, neolinguagem é bem menos normalizada. A maioria das pessoas ainda acha aceitável classificar linguagem apenas como masculina/feminina/neutra ou como algo do tipo elu/delu, como se tudo isso fosse óbvio e fixo e bom para todo mundo. E tem pessoas não-binárias brasileiras que nem querem se meter com a falta de conhecimento da população geral sobre neolinguagem, preferindo assim usar o/ele/o e/ou a/ela/a na língua portuguesa mesmo que usem they/them ou outros conjuntos em espaços anglófonos.

Então, antes de considerar uma tradução, acho que o contexto deveria ser considerado. Se você vai traduzir uma obra fictícia, meio que tudo bem inventar qualquer coisa. Se você vai dizer para alguém “você usa isso em inglês então deveria usar isso em português”, é uma questão mais complicada: é bem mais fácil alguém usar um conjunto fora do padrão ao falar inglês do que português.

Se você tem interesse em conjuntos temáticos relacionados a fogo e estrela, posso sugerir alguns:

fo/ogo/o | fo/ogo/’ | f/og/o | fo/og/o | of/ogo/o | -/🔥/-

estre/el/a | e/estrel/a | -/estrel/a | -/estre/el  | a/estre/el | estre/ela/e | la/estre/- | -/⭐/-

Você também pode modificá-los, especialmente considerando que os finais de palavra o e a são muito associados a identidades binárias ou de qualidades associadas com gêneros binários.

Porém, como eu falei, não há como ter traduções exatas, porque os contextos culturais são diferentes demais para que qualquer conjunto de neopronomes possa ter uma tradução perfeita e universalmente aceita.

Espero ter ajudado.

~ Ás

Imagens para você mostrar como sua linguagem pessoal é utilizada

Existe o testador de conjuntos, e aqui tem uma postagem com recomendações de como falar de como sua linguagem pessoal funciona. Eu sempre vou recomendar usar fontes mais completas quando possível, ao invés de arriscar explicações simplificadas demais que deixam pessoas sem entender muito.

Porém, infelizmente, algumas pessoas não querem prestar atenção em coisas chatas como textos sem imagens. Então fiz textos dentro de imagens.

Link para cá ou créditos são apreciados, mas não são necessários se você não tiver muito espaço pra isso ou se você só estiver falando para alguém numa conversa privada como sua linguagem funciona sem a pessoa ter interesse em saber onde você conseguiu a imagem.

Caso você queira algum conjunto que não esteja aqui, é só pedir, de preferência nos comentários desta postagem. Em nenhum momento estamos afirmando que as opções daqui são as únicas possíveis ou válidas!

A lista está organizada por ordem alfabética de pronome, depois de artigo, e depois de final de palavra.

Descrição: Todas as imagens possuem “Minha linguagem é [conjunto correspondente]” no topo, sendo que cada elemento tem artigo, pronome ou terminação embaixo. Depois, há exemplos separados de como tal artigo, tal pronome e tal final de palavra são usados.

Sem pronome:

Pronome ael:

-/ael/e

Pronome el:

Pronome ela:

a/ela/a

Pronome eld:

Pronome ele:

o/ele/o

Pronome éli:

Pronome elo:

Pronome elu:

Pronome élu:

-/élu/e

Pronome êlu:

Pronome ély:

y/ély/y

Pronome elz:

Pronome il:

Pronome ila:

Pronome ile:

Pronome ilo:

Pronome ilu:

Pronome ílu:

Pronome ily:

Pronome yl:

O sistema artigo/pronome/final de palavra

Apesar de já termos respondido algumas perguntas relacionadas a isso, e, inclusive, em uma delas já existem alguns links sobre conjuntos de linguagem, acho importante ter uma postagem especificamente sobre isso.

Texto da imagem:
Artigo/pronome/final de palavra
No contexto de um conjunto de linguagem:
• Artigo é o que vem na frente do nome: o Lúcio, i Erin
• Pronome substitui o nome: isto é dela, é ile ali
• Final de palavra (ou terminação) substitui o final das palavras com flexão “de gênero”: aluna, linde, meniny
E é assim que fica na prática:
o/ele/o • O Juno é fotógrafo. Essa câmera é dele.
ê/elu/e • Ê Juno é fotógrafe. Essa câmera é delu.
-/ily/y • Juno é fotógrafy. Essa câmera é dily.
a/-/i • A Juno é fotógrafi. Essa câmera é di Juno.
Saiba mais: orientando.org/o-que-e-neolinguagem
Dúvidas? ajudanhincq.wordpress.com/pergunte
Fonte da imagem de fundo

Sugestão: salve esta imagem e a compartilhe em grupos de chat, especialmente quando você for explicar sua linguagem neste sistema.

O sistema a/p/f, ou a/p/t (com t significando terminação), foi criado há alguns anos, para suprir a necessidade de explicar de forma rápida e resumida o conjunto de linguagem pessoal de alguém. Em inglês, os formatos utilizados só usam pronomes, mas, em português, isso não funciona bem.

Um final de palavra é necessário, porque ele nem sempre é igual à letra final do pronome. Alguém que usa o pronome ele geralmente vai usar o final de palavra o, enquanto alguém que usa o pronome elu geralmente vai usar o final de palavra e. A primeira presunção é óbvia para quem está acostumade com a língua portuguesa, mas a segunda não é.

Além disso, separar o final de palavra do pronome dá a possibilidade de pessoas usarem finais de palavra ou pronomes que não são considerados “óbvios”, ou concordantes: ele/e, elu/u, ile/o.

Já o artigo é separado porque, ainda que nas linguagens padrão (a/ela/a e o/ele/o), o artigo seja o mesmo que o final de palavra, os finais de palavra mais populares entre pessoas que se esforçam para escrever de forma neutra e pessoas não-binárias são x e e; como artigos, um deles causa incerteza sobre a pronúncia (como final de palavra, é só não pronunciar a letra x, e a palavra ainda será entendível), e outro já existe como outra palavra (uma conjunção aditiva).

Em resposta a isso, foram criados novos artigos, como ê e le, que não funcionam tão bem como finais de palavra populares. Assim, é importante também sinalizar o artigo, para que pessoas possam diferenciar e/elu/e de ê/elu/e e de le/elu/e. Isso também dá a liberdade de usar conjuntos como a/ele/e, o/ela/a, le/ile/o, entre outros.

Esta postagem já está longa, então, ainda que eu quisesse entrar em outros assuntos, vou parar por aqui. Quem quiser saber mais sobre o motivo disso tudo ser importante, vou deixar algumas leituras aqui:

PS: Falar sobre seu conjunto de linguagem é importante mesmo que você use a/ela/a ou o/ele/o. Dizer que você usa o pronome ela sabendo que a grande maioria vai saber que isso significa a/ela/a impede que pessoas usem conjuntos como al/ela/ae sem terem que explicar o que isso tudo significa, enquanto usar a/ela/a normaliza a ideia do artigo e do final de palavra.